
Premiado no Festival de Berlim, filme iraniano "Meu Bolo Favorito" chegará ao Brasil em janeiro nos cinemas.
Destaque no Festival do Rio, e duplamente premiado na Berlinale, o filme da dupla iraniana Maryam Moghhadam e Behtash Sanaeeha traz a história de uma mulher que decide ser livre, explorando o sentimento de solidão em um romance repentino na terceira idade.
O filme foi um grande destaque no Festival de Berlim, onde levou para casa dois importantes prêmios do festival: o Prêmio do Júri Ecumênico, que é composto por jurados com diferentes crenças, ideias e perspectivas, e o Prêmio FIPRESCI, que cedido pela crítica, e honrou Meu Bolo Favorito como Melhor Filme. No Brasil, foi exibido pela primeira vez durante o Festival do Rio, com sessões esgotadas.
UM FILME SOBRE AMOR E LIBERDADE
A crítica social à forma como as mulheres são vistas no Irã é um dos pontos altos do filme, mostrando de forma clara como a liberdade de mulheres iranianas é ameaçada por um regime tão opressor contra elas.
O amor é retratado de forma sensível, com diálogos que fluem naturalmente e atos simples de cuidado entre os personagens, que têm seus futuros entrelaçados para sempre ao acharem um no outro a doce liberdade que estavam procurando após anos de uma solitude forçada.
A SOLIDÃO DA TERCEIRA IDADE
O filme mostra a solidão de forma sutil e verdadeira – é algo que percebemos ao longo da apresentação da personagem principal, em cenas onde ela come e passeia sozinha, por exemplo - e aos poucos passamos a simpatizar com sua vida monótona, entendendo a forma como ela se sente e porquê é tão importante para ela ter uma companhia para diminuir essa angústia.
A emoção do filme fica a encargo dos atores Lily Farhadpour e Esmail Mehrabi, que apresentam uma química memorável em cena. Os personagens Mahin e Faramarz se completam em cena com uma dinâmica amorosa, com diálogos simples e convincentes que facilmente fazem os espectadores se apegarem aos dois e torcerem por um final feliz que ponha fim à solidão que ambos sentem, por motivos diferentes.
OS DIRETORES E A REPRESSÃO IRANIANA
Meu Bolo Favorito é dirigido por Maryam Moghaddam e seu marido, Behtash Sanaeeha, ambos iranianos. O casal já sofreu uma série de repressões por parte do governo iraniano devido às críticas frequentes à opressividade do país presentes em suas obras. Após meses de espera e diversos obstáculos para recuperar seus passaportes, Maryam e Behtash finalmente poderiam retomar seus compromissos profissionais com Meu Bolo Favorito. No entanto, quando Maryam tentou viajar para visitar sua família na Suécia, foi abruptamente impedida de embarcar, tendo seus documentos novamente confiscados.
Dessa forma, nenhum dos diretores pôde viajar para promover o filme em festivais e premières internacionais.
Moghaddam iniciou sua carreira como atriz no filme Cortinas Fechadas (2013) e ingressou no mundo do roteiro com Risk of Acid Rain (2015), obra que coescreveu com Sanaeeha e que marcou o primeiro projeto conjunto do casal. O longa recebeu o prêmio de Melhor Roteiro no 31º Festival Internacional de Cinema de Fajr e foi exibido em mais de 30 festivais ao redor do mundo.
A partir desse momento, o casal seguiu com a parceria no documentário The Invincible Diplomacy of Mr. Naderi (2018), projeto que escreveram e dirigiram juntos. O documentário foi amplamente exibido em diversos festivais e recebeu o prêmio de Melhor Filme Documentário no Cinéma Vérité, festival internacional de documentários do Irã.
Em seguida, Moghaddam e Sanaeeha realizaram o longa O Perdão (2020), que teve sua estreia mundial no Festival Internacional de Cinema de Berlim em 2021, e também foi lançado no Brasil pela Imovision. O filme narra a história de Mina, uma viúva cuja vida vira de ponta-cabeça ao descobrir que seu marido era inocente do crime pelo qual foi executado.